No contexto das simbologias urbanas contemporâneas, o número 1488 aparece habitulamente associado ao lema criado pelo nacionalista branco e criminoso, David Lane, no âmbito das ideologias Nazi que defendia. Os primeiros dois dígitos do número 1488 referem-se à sequência de 14 palavras que compõem o referido lema "Devemos assegurar a existência do nosso povo e um futuro para as crianças brancas", popularizado como slogan por nacionalistas brancos. Os últimos dois dígitos, 88, referem-se à oitava letra do alfabeto, o “H”. 88 traduz as duas letras “H” que evocam a expressão "Heil Hitler". Por muito hediondo que este significância possa soar, o facto de colocar o símbolo de € à frente do número não traduz uma menos vergonhosa e surpreendente realidade. 1488€ não se refere às ideias de um qualquer louco e uns quantos seguidores. 1488€ é tão somente o “preço de mercado” de uma pessoa quando transaccionada dentro da comunidade europeia.
O tráfico humano é um crime contra a humanidade. No entanto, na Europa, o seu crescimento é exponencial. As principais vítimas desse crime horrendo são meninas e jovens mulheres, escravizadas e exploradas pela indústria clandestina do sexo. 1488€ é o preço médio pago “por cabeça” dentro da Europa por criminosos sem escrúpulos. Seja para trabalhos forçados, sexo, ou simplesmente para desfazer em peças para venda de órgãos, o tráfico de pessoas cresce diariamente. Os criminosos, como micro-organismos que ganham resistência a um fármaco, alteram constantemente o seu modus operandi tornando cada vez mais difícil controlar um processo em constante ascensão e em permanente readaptação.
As histórias que se conhecem começam por vezes com um simples convite de um aparente amigo de longa data, acabando com a obrigação de gerar um mínimo de 1000 euros diários, sob ameaça de morte extensível a toda a família. Isto está a acontecer hoje na Europa. É absolutamente inaceitável, e apenas concebível pela força das provas que, em pleno século XXI, ainda seja necessário unir esforços e despertar consciências que permitam encetar uma luta contra a escravatura. Um mercado que, para além de mulheres e meninas, absorve igualmente homens e rapazes. Falamos de cidadãos europeus a serem vítimas no seu próprio continente. Cidadãos que são vendidos, nalguns casos, por amigos e familiares que incluem tios, irmãos e até pais.
Infelizmente, apenas um em cada oitocentos casos acaba em condenação para o criminoso. Em parte porque as vítimas que sobrevivem se recusam a testemunhar contra os seus agressores com medo de retaliação. Por outro lado, como podemos continuar a aceitar na Comunidade Europeia países que apresentam elevados níveis de um crime contra a humanidade como é o tráfico humano?
Esta forma de escravatura moderna é mais um dos factores que ajudam a suportar os números que revelam haver hoje mais escravos no mundo do que em qualquer outro momento da história da humanidade. O seu número estima-se em 27.000.000 de pessoas. Seres humanos forçados a trabalhar, sem remuneração, sob a ameaça de violência e impossibilitados de procurar uma vida melhor. Podemos encontrá-los em bordéis clandestinos, fábricas, minas, campos agrícolas, restaurantes, construção civil e até em casas particulares. A escravatura é illegal nos quatro cantos do mundo, mas acontece hoje em todos os países. Acredita-se ser possível acabar com a escravatura nos próximos 25 anos, contudo, para isso é preciso que TODOS queiram. Governos, religiões, negócios, organizações, consumidores e, especialmente, cada um de nós.
“Seres humanos que se vendem para tudo, até para desfazer em peças…”